Deputado Ricardo Vicente contacta com a população e autarcas na região afetada pelos incêndios de 2017

O Bloco de Esquerda considera que o Governo deve reforçar as medidas de resposta à crise atual apoiando mais fortemente as pessoas que foram lesadas pelos grandes incêndios.

Na passada segunda-feira 8 de junho, o deputado Ricardo Vicente visitou a região afetada pelo incêndio de Pedrogão Grande que deflagrou a 17 de junho de 2017 e que se alastrou por concelhos vizinhos. A devastação provocada pelo fogo marcou gerações, a perda de vidas foi arrasadora e o prejuízo material inultrapassável. 

O deputado eleito por Leiria contactou com cidadãos locais e com o Município de Castanheira de Pera, “confirmei o muito trabalho que está por fazer para recuperar a floresta, mas também a atividade económica.”

A maioria das áreas florestais não tiveram qualquer tipo de intervenção e os eucaliptos já atingiram 3 e 4 metros de altura, depois de rebentarem desordenadamente. A paisagem voltou a ser ocupada com uma monocultura de eucalipto, agora mais densa devido à insuficiência ou ausência dos trabalhos de gestão florestal, prevendo-se assim o aumento de riscos de incêndio futuros. Também as acácias, plantas invasoras, estão a ganhar terreno e fora de controlo em muitas áreas.

Em Castanheira de Pêra houve uma intervenção substancial na requalificação de uma importante linha de água, a Ribeira de Pêra, num interessante trabalho de aplicação de engenharia natural nas áreas ardidas, mas esta intervenção ficou pela metade, pois a parte que não ardeu continua a aguardar intervenção e não existem previsões de concretização. Além disso, a implementação do projecto foi financiada pelo fundo florestal, mas não foi prevista verba para manutenção e agora, depois de uma enxurrada que exige medidas de gestão e preservação, não há meios locais disponíveis para intervenção atempada.

“Três anos depois dos incêndios, requalificadas muitas casas, o Governo não apresentou medidas capazes de impulsionar a transformação da paisagem local. Muitas pessoas perderam tudo ou quase tudo o que tinham nesta região e hoje estão mais frágeis e menos capazes de enfrentar a crise atual. Por isso, o Bloco de Esquerda considera que o Governo deve reforçar as medidas de resposta à crise atual apoiando mais fortemente as pessoas que foram lesadas pelos grandes incêndios.”

Não se pode olhar para o sector florestal sem ter em conta as restantes atividades socioeconómicas. Durante anos a política pública que promoveu o fecho de serviços públicos de saúde e educação, que desinvestiu nos transportes e portajou vias rápidas, expulsou as pessoas do seu território e hoje temos falta de gente, em especial falta de jovens e isso teve consequências também no abandono e má gestão florestal.

“É preciso reverter esta situação, hoje numa nova realidade socioeconómica e climática, e só o investimento público pode iniciar este caminho eficientemente. No sector florestal, é preciso apoiar os pequenos e médios produtores florestais a fazer a transição ecológica, a valorizar e a diversificar os seus produtos e serviços. O Bloco de Esquerda propôs em sede de Orçamento do Estado a criação de campos de ensaio e de viveiros públicos para produção e distribuição gratuita de espécies autóctones para garantir uma reflorestação diferente das áreas ardidas, mas as propostas foram chumbadas.”

Para evitar novas tragédias é necessário garantir que o conhecimento técnico-científico seja fortalecido e incorporado de forma estruturada em duas dimensões: na prevenção e no combate aos incêndios. E a prevenção tem de representar sistematicamente um investimento maior do que o combate nos investimentos realizados pelo Governo e pelas autarquias, coisa que nunca aconteceu.

Depois dos incêndios de 2017, foi unânime a necessidade de criar um novo Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais, baseado na profissionalização de meios humanos e na construção de florestas diversificadas, baseadas em espécies autóctones, com redução das áreas de eucalipto e pinheiro, pois estas são mais suscetíveis ao fogo.

Este caminho obrigaria à revisão dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal, à promoção e capacitação dos pequenos e médios proprietários florestais para a gestão coletiva e à capacitação científica e tecnológica do sistema de proteção civil e do Instituto para a Conservação da Natureza e da Floresta (ICNF).

“Por várias vezes o Bloco apresentou propostas neste sentido ao Governo, mas foram sempre recusadas e até hoje o Governo não tomou qualquer medida significativa para fazer este caminho. Infelizmente a chegada de novos grandes incêndios continua a ser apenas uma questão de tempo e de oportunidade meteorológica.”