“O que está a ser distribuído em lucros é o que falta aos trabalhadores”

No debate quinzenal desta quinta-feira, Catarina Martins confrontou o primeiro-ministro com a realidade das empresas que distribuem dividendos e despedem milhares de trabalhadores precários.

Na sua intervenção no debate quinzenal desta quinta-feira, Catarina Martins começou por fazer uma nota dirigida ao deputado do partido CHEGA:  “André Ventura fez uma proposta inqualificável de decidir o confinamento de pessoas tendo em conta a sua origem étnica”. Esta proposta já teve uma resposta “que devia” por parte do jogador de futebol da selecção nacional Ricardo Quaresma, que fez com que o deputado sugerisse que os futebolistas deveriam ter direitos limitados à opinião. Catarina Martins acusou André Ventura de “ter a cobardia de querer calar quem lhe faz frente” e sublinhou que lutará pelo direito do deputado a ter opiniões sobre futebol, ainda que vá lutar para acabar com possibilidade de este acumular vários salários além do deputado. Para terminar esta nota, a deputada bloquista disse ainda ao deputado do CHEGA que, no que depender do Bloco, “as suas ideias racistas hão-de ir parar ao caixote de lixo, de onde nunca deviam ter saído”.

Depois desta nota, dirigiu-se ao primeiro ministro, começando por saudá-lo pelo alargamento do apoio social aos trabalhadores que não têm descontos, ao mesmo tempo que perguntou pelas decisões do último Conselho de Ministros desta quinta-feira, nomeadamente se o Governo aproveitou, ou não, a oportunidade de corrigir um erro do último decreto que exclui os doentes hipertensos e diabéticos dos grupos de risco, sem que haja qualquer evidência científica para essa decisão. António Costa respondeu a dizer que houve um "erro de interpretação" na leitura do decreto do governo: "As pessoas terão direito à falta justificada em função daquilo que for a declaração do seu médico assistente ou médico de família", assegurou António Costa, acrescentando que "não deixam de ser doentes de risco: o risco terá de ser definido para a situação concreta e para a função concreta".

Falando sobre a distribuição de dividendos feita pelas empresas durante a crise da pandemia, Catarina Martins afirmou sentir alguma estranheza pelo Partido Socialista e os partidos da direita continuem a “achar normal e até a incentivar que empresas que despedem trabalhadores possam distribuir dividendos”. Para exemplificar falou da REN, que se prepara esta semana para distribuir 114 milhões de euros, ou a GALP, que distribuiu 300 milhões de euros depois de ter despedido trabalhadores precários. Esta é para o Bloco uma situação inaceitável, porque o “que está a ser distribuído em lucros aos acionistas é precisamente o que falta agora, ou faltará, aos salários dos trabalhadores.”

Referindo-se aos trabalhadores precários, Catarina afirmou que estes têm sido despedidos desde o início da pandemia, perdendo o seu salário,  “enquanto as mesmas empresas que os despedem, que acabam os seus contratos, estão a distribuir lucros aos acionistas”.

Falando da prolongação dos contratos de arrendamento durante a crise pandémica, afirmou não se compreender como é que o Governo ache “normal que grandes empresas tivessem terminado contratos temporários, período experimental, ou contratos a prazo, sem os prolongar, no meio da pandemia, e ainda assim distribuíram lucros aos accionistas”, acrescentou a coordenadora do Bloco.

Também sobre escolhas relacionadas com recursos públicos, Catarina Martins voltou a questionar o primeiro-ministro, tal como no último debate quinzenal, sobre novas injecções de capital no Novo Banco procurando saber se António Costa mantém que não haverá novo reforço do fundo de resolução até se conhecer a auditoria que está prometida e contratualizada. O primeiro-ministro voltou a afirmar que não haverá reforço do empréstimo do Estado até se concluir a auditoria ao banco.

No final da sua intervenção, Catarina Martins questionou ainda sobre a possibilidade de uma descida automática dos seguros, uma vez que esta só pode ser feita através de requerimento, numa altura em que os custos das seguradoras desceram automaticamente pela diminuição da mobilidade. António Costa respondeu que o diploma aprovado em Conselho de Ministros vai no sentido de fazer refletir no preço do prémio cobrado pelas seguradoras o decréscimo desse risco.

 

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