Porque ‘choca’ a marcha? [Newsletter: Lado Esquerdo]

Leiria, marchou! Naquilo que foi a 3ª marcha LGBTQIA+, os leirienses, a 24 de setembro, ergueram-se em prol dos direitos LGBTQIA+, não só para demonstrar que a comunidade existe, como para dizer que estamos cientes das nossas conquistas e dos direitos que nos faltam conquistar. O dia celebrativo da diversidade começou na ESECS com um momento artístico protagonizado pela banda SLR e pelo show drag, cortesia do Glitz, nomeadamente, da Eva Brown, da Cherry Flavor e da Debbie Björn, momento que fazia disparar a fasquia naquilo que prometia ser a marcha mais bonita que Leiria já viu. Apesar da cidade não ter um histórico de manifestações e de ser de difícil mobilização, centenas de pessoas juntaram-se para dar início à marcha e o arco-íris pintou as ruas de Leiria.

Como resposta à importância de marchar e como prova de que é imperativo continuar a lutar, a meio do percurso fomos vítimas de um episódio que se tem vindo a replicar pelo resto do país, populares que assistiam à marcha decidiram atirar ovos ao movimento. Em pleno seculo XXI não é aceitável que estas ações continuem a decorrer. Atualmente, assistimos a um aumento da extrema-direita no mundo, e em particular, em Portugal, que está inerente a uma validação dos sentimentos de intolerância e de violência para com minorias sociais. Quando confrontados com isso percebemos que as nossas liberdades e direitos são muito frágeis e que é importante defendê-los. A comunidade LGBTQIA+ lutou muito para conquistar os direitos que tem hoje e não só não irá abdicar deles, como se unirá cada vez mais em resposta a estes ataques.

É bastante comum as pessoas que não participam nestas marchas, justificarem estas agressões e assédios de que somos alvo com o suposto ‘choque’ que provocamos ao marchar, no entanto, não se apercebem que com isso continuam a perpetuar preconceitos e desigualdades, repetindo narrativas que não têm qualquer sentido. Quando se considera que um conjunto de pessoas com uma bandeira arco-íris desenhada na cara a marchar pelas ruas enquanto grita ‘direitos iguais’, ou ‘eu amo quem quiser tenha o género que tiver’ chocante algo está errado, não com os organizadores ou participantes da marcha, mas com a sociedade portuguesa, que revela assim a sua persistente intolerância. Enquanto um manifesto pacifico chocar, continuaremos a marchar e a mostrar que não nos podem esconder mais dentro de um armário bafiento. A luta LGBTQIA+ é uma luta com expressão mundial que se tem vindo a associar ao longo dos tempos a lutas contra regimes opressores e conservadores, a luta LGBTQIA+ é uma luta pela democracia, pela liberdade e pela igualdade, por isso Leiria marchou e continuará a marchar!

Texto: Rita Gageiro