"Sem casa nos querem? Nas ruas nos terão!" [Newsletter: Lado Esquerdo]

Faço parte de uma geração que está agrilhoada ao capricho do mercado livre e que vive na incerteza de quando conseguirá sair de casa dos pais para partilhar casa com estranhos num qualquer sítio com uma janela, com uma renda equivalente a um salário. 

O mercado, que se “auto-regula”, impõe-se com violência, brutalidade e revestido de uma proteção de inevitabilidade, especialmente contra pessoas das classes médias e baixas, assim como os estudantes que são, em grande número, deslocados das suas cidades de origem.

Foi precisamente pela rejeição do fatalismo e da inevitabilidade que, em mais de 20 cidades em Portugal no passado dia 30 de Setembro, se juntaram dezenas de milhares de pessoas em manifestações e concentrações convocadas por mais de uma centena de coletivos de defesa do direito à habitação.

Rejeitamos que nos sejam impostas as inevitabilidades do mercado e que a aspiração a ter casa nos seja negada e apelidada de “radical”. Por isto mesmo nos levantamos contra a crueldade do mercado e contra a inação de quem não vê o direito à habitação como uma prioridade.

Saímos à rua por todo o país para exigir o controlo das rendas e dos preços dos bens essenciais que estão sujeitos ao mercado especulativo. Exigimos que as prestações do crédito à habitação sejam suportáveis para as famílias, exigimos que os imóveis devolutos sejam requalificados e que sirvam para habitação.

Para além disto não nos é possível ignorar o factor absolutamente central que a especulação turística tem no aumento dos preços das casas, pelo seu comportamento predatório.

Durante a maior crise habitacional em Portugal é incompreensível que se continuem a expulsar as famílias dos bairros e das cidades para dar lugar a alojamentos locais e a hotéis. As licenças devem ser revistas e esses imóveis devem servir para habitação própria, não para especular.

Foi com estas reivindicações que, em Leiria, tal como em todo o país, saímos à rua. E saímos com a promessa de que voltaremos, porque a luta pelo direito à habitação está apenas a começar.

Texto: Frederico de Moura Portugal