Bloco de Esquerda repudia a pressão da CML na Assembleia de Freguesia de Marrazes e Barosa

O deputado Bloquista, Frederico Pereira, manifestou-se contra tomada de posição conjunta sobre supressão de passagens de nível, na passada Assembleia de Freguesia de Marrazes e Barosa, que decorreu no dia 17 de dezembro, por não estarem reunidas as condições necessárias, nomeadamente pela falta de documentação disponível que pudesse suportar uma decisão fundamentada. 

Senhor Presidente da Assembleia, 

Senhor Presidente da União de Freguesias, 

Senhoras e senhores membros da Assembleia,

A requalificação e eletrificação integral da Linha do Oeste é, como bem sabem, uma bandeira, uma luta e um desígnio inalienável do Bloco de Esquerda. 

Uma linha ferroviária centenária, com quase 198km de extensão e que contribuiu de forma inegável para o surgimento e desenvolvimento de núcleos urbanos no litoral da Região Oeste e Centro. Tem sido progressivamente abandonada pelos sucessivos executivos do poder central, o serviço prestado tem piorado de forma notável, existe falta de material circulante, é cada vez menos competitiva relativamente à solução rodoviária. 

Hoje somos chamados, à pressão, a deliberar sobre a supressão de passagens de nível – que, como bem saberão, é essencial para dar competitividade a esta linha ferroviária. Somos chamados a lutar pela sua modernização, causa cara às populações que tanto lutaram para que a Linha não caísse no esquecimento. 

No passado dia 24 de novembro houve uma reunião entre o município de Leiria e a Infraestruturas de Portugal tendente à discussão da supressão de passagens de nível e alternativas a criar para a população afetada, que as utiliza para atravessamento pedestre e/ou rodoviário. Dessa reunião terá surgido o compromisso da Câmara Municipal em enviar um parecer até ao final deste ano, que levou a que fossemos convidados para uma sessão de trabalho no passado dia 15 às 21:00. Sem qualquer documento de suporte disponibilizado previamente. 

No fim da reunião e hoje, esta Assembleia ficou onerada devido à irresponsabilidade e falta de comunicação da Infraestruturas de Portugal ou da Câmara Municipal. Pediram-nos para reunir e deliberar sobre soluções a apresentar com um intervalo de exatamente 48 horas e sem qualquer documento de suporte. Sem mapas, sem disponibilizarem individualmente a apresentação com as soluções apresentadas pela IP e pela Câmara Municipal – estes apenas foram disponibilizados ontem, quinta-feira, às 17:00. 

Embora tenha o vereador assumido que estamos numa fase “bastante embrionária” querem onerar esta Assembleia com uma deliberação com carácter de urgência, que não se compadece com uma deliberação pensada, construída, clara e ponderosa. Minhas senhoras e meus senhores, se o conseguem fazer em 28h então os meus parabéns. Eu não sou capaz. 

Além de pouco transparente e com muitos obstáculos comunicacionais este processo parece ter surgido a caminho das eleições para esconder o que está aos olhos de toda a gente: o Governo desprezou a linha do Oeste e a ações de modernização conhecidas até ao momento limitam-se ao troço Meleças – Torres Vedras, onde se prevê que o comboio elétrico vá demorar o dobro do tempo que demora um autocarro a fazer a viagem. Os planos de requalificação integral da linha ficaram na gaveta e os dinheiros do programa Ferrovia 2020 (não, não é gralha. É mesmo Ferrovia 2020) vão expirar em 2023. 

Relembramos que fomos convidados a uma reunião sem qualquer material de suporte, nem hoje temos acesso ao conteúdo da reunião entre o município e a IP. 

Desta sequência de eventos apenas podemos retirar uma de duas conclusões: ou a Câmara Municipal aceitou o papel de ser um fantoche e de pronunciar-se sobre um assunto sobre o qual a IP não lhe deu documentação alguma – e então é uma irresponsabilidade tremenda, ou então existe documentação facultada e a Câmara Municipal está a sonegar a informação de dia 24 de novembro e está a instrumentalizar este órgão autárquico, pedindo uma deliberação às cegas.
O Bloco de Esquerda não esquece nunca a sua luta pela modernização e requalificação integral da Linha do Oeste, e entende que deve ser feito de maneira correta – ponderada, transparente e pública. 

Não há justificação para que o assunto não possa ser deliberado com pés e cabeça, de forma a dignificar o trabalho desta Assembleia e que ponha em primeiro lugar o superior interesse dos cidadãos que representamos. 

O Bloco de Esquerda trabalha às claras, de forma transparente e não de forma obscura e opaca, irrefletida e irresponsável. 

Por este motivo não poderemos, em consciência, viabilizar qualquer proposta que saia deste ponto da ordem de trabalhos. E apelo a V/ Exas que façam o mesmo. A irresponsabilidade foi de alguém certamente, mas não foi do executivo da União de Freguesias nem muito menos desta Assembleia. 

 

O representante do Bloco de Esquerda,

Frederico de Moura Portugal Dias Pereira