Vigilância digital em tempo de pandemia
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Nos últimos dois meses temos ouvido muitos debates acerca de como será o mundo pós-pandemia. E em muitos deles a tecnologia assume um papel preponderante nesse futuro. Como explica o investigador e escritor Evgeny Morozov, “o mundo está atualmente fascinado pela tecnologia solucionista” e os governos querem estar na linha da frente, por exemplo lançando as apps de rastreamento de contactos. Em Itália, o governo lançou o Immuni e Andrea Ianuzzi discute os riscos e o equilíbrio entre privacidade e saúde pública.
Em Portugal, a associação de direitos digitais D3 lançou o site rastreamento.pt(link is external) para informar e ajudar a refletir sobre a utilidade das apps de rastreamento de contactos. Ricardo Lafuente, um dos autores da iniciativa, explicou-nos os objetivos deste site e faz o ponto da situação neste debate. E Francisco Louçã escreve sobre a utilidade (ou falta dela) destas aplicações.
Embora o debate tenha vindo a ser apresentado como uma novidade no mundo ocidental, a verdade é que a vigilância física e digital já faz parte do quotidiano de muitas pessoas, nomeadamente das comunidades mais pobres e racializadas, como nos lembra a consultora da rede europeia de direitos digitais EDRi Sarah Chander. A questão de quem se pode dar ao luxo de pagar a privacidade ou de ser ouvido nestes debates sobre privacidade é outro dos temas que levanta.
Irão as técnicas de vigilância de dados usadas na atual crise pandémica permanecer para o futuro. Estaremos então à beira de uma "mutação nociva do capitalismo marcada por concentrações de riqueza, conhecimento e poder sem precedentes na história da humanidade”, o “capitalismo de vigilância” enunciado por Shoshana Zuboff? Essa é a questão discutida no artigo de Mark Whitehead, que recupera a tese de Zuboff.
A forma como esse capitalismo de vigilância tem um historial de aproveitamento das crises tem pontos em comum com a tese defendida pela autora de “A Doutrina de Choque. Naomi Klein também interveio no contexto da atual crise para denunciar o que chama de “Screen New Deal”, uma aproximação poítica entre governantes como Andrew Cuomo, governador de Nova Iorque, e os magnatas de Sillicon Valley interessados em passar a deter fatias importantes dos negócios da saúde, educação, enquanto vendem “uma visão da sociedade ao estilo Black Mirror”.
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Vigilância digital em tempo de pandemia
À boleia da pandemia e do medo de contágio, multiplicam-se pretensas soluções tecnológicas que prometem segurança em troca dos nossos dados. Enquanto isso, as gigantes tecnológicas prometem transformar a Educação e a Saúde tal como as conhecemos, garantindo para si rendas bilionárias. Dossier organizado por Luís Branco.
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O telemóvel é que nos salvará? Olhe que não
Uma app de eficácia duvidosa é muito útil para lavar a imagem de empresas suspeitas de nos controlarem, passando a controlar-nos um pouco mais. Artigo de Francisco Louçã.
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Screen New Deal: uma distopia tecnológica à boleia da pandemia
A jornalista e autora Naomi Klein critica a aproximação do governador de Nova Iorque aos magnatas das tecnologias de informação, convidados para participarem na construção do futuro daquele estado num mundo pós-covid.
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Covid e tecnologia: a vigilância é uma condição pré-existente
Estas medidas estão a ser apresentadas como “novas” na Europa, mas para muitos a vigilância não é novidade. As respostas governamentais ao vírus simplesmente trouxeram ao público em geral uma realidade reservada às pessoas racializadas e a outras comunidades marginalizadas durante décadas. Artigo de Sarah Chander.
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Rastreamento.pt é o site que faz pensar antes de instalar
O site lançado pela D3, associação de defesa dos direitos digitais, reúne informação sobre as apps de rastreio de contactos para que as pessoas possam formar a sua decisão de instalá-las (ou não) nos telemóveis. Ricardo Lafuente, um dos autores da iniciativa da D3, explicou-nos o que está em causa.
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Capitalismo de vigilância em tempo de covid-19
Neste artigo, Mark J. Whitehead discute os possíveis custos da libertação tecnológica do confinamento, retomando a teoria do capitalismo de vigilância introduzida por Shoshana Zuboff.
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O elefante na sala não são os dados, mas a vigilância
Quando falamos de sistemas de rastreamento geridos pelo estado, é importante garantir que eles não sejam transformados em instrumentos de controle do poder. O problema não será compartilhar dados pessoais através da app, mas como fazê-lo. Artigo de Andrea Iannuzzi.
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As "soluções" tecnológicas para o coronavírus fazem o estado de vigilância subir de nível
O propósito solucionista é convencer o público de que o único uso legítimo das tecnologias digitais é perturbar e revolucionar tudo, menos a instituição central da vida moderna - o mercado. Artigo de Evgeny Morozov.