Câmara Municipal de Leiria: um ano de mandato e o vídeo de teor propagandístico

Assinalou-se um ano da tomada de posse do executivo da Câmara Municipal de Leiria, formado com as últimas eleições autárquicas de 2022 – também prontamente assinalado nas redes sociais do município com um vídeo que, não estivéssemos nós atentos para a sua seriedade, facilmente seria confundido com uma peça humorística.

Acontece, no entanto, que o teor propagandístico do vídeo esbarra frontal e brutalmente com a realidade. Pois bem:
    1- O documento de reflexão estratégica Leiria 2030 encomendado ao ex-governador civil Carlos André refere que “A cidade passou a ser planeada pelos especuladores imobiliários e fundiários (…)”. Não houve espaço no vídeo de mais de 3 minutos para enaltecer qualquer avanço neste sentido. Sabemos porquê: porque não houve.
    2- A solução “cidade de 15 minutos” foi evidentemente abandonada e assistimos à progressiva concentração de serviços, comércio e educação.
    3- Com a concentração de serviços e pessoas dá-se o que qualquer Leiriense já percebeu: o trânsito em Leiria está a atingir um ponto de rutura como nunca testemunhamos.
    4- A esta falta de pensamento relativa ao ordenamento dos espaços alia-se a falta de vontade política em garantir o pleno acesso ao direito à mobilidade. É evidentemente tempo de Leiria possuir a sua própria empresa de transportes públicos, mas é notório o que falta melhorar no imediato: horários compatíveis com a vida dos leirienses (especialmente dos que vivem fora do centro de Leiria) e conforto.
    5- Também relativamente à grande bandeira do Partido Socialista pouco ou nada se sabe – falamos da questão da bacia hidrográfica do Lis e da sua despoluição. As descargas ilegais continuam, a bacia continua poluída. É notório que a posição do Presidente da Câmara relativamente à construção da ETES era manifestamente errada, mas alternativamente, também nada foi feito. Não, Sr. Presidente. A ETES não seria uma solução de fraca eficácia.
    6- Continuamos a assistir à aversão à Tarifa Social da Água automática. Sabemos que quem beneficia desta medida são as famílias que se encontram em situação de carência económica (agravada pela espiral inflacionista), e não se entende a razão pela qual o município não atua para mitigar o efeito do aumento do custo de vida, como fazem já a maioria dos concelhos.
    7- Na área da habitação social existem 53 candidaturas ao Programa Municipal de Arrendamento, tendo sido deferidas 23. Foram contabilizadas 271 famílias com necessidade de habitação social. O município falha clamorosamente na abordagem aos problemas sociais dos leirienses.

A conclusão é evidente: o executivo camarário vive fechado em si mesmo, com um discurso dissonante da realidade dos Leirienses e do nosso concelho. Não tem qualquer rumo estratégico definido para o concelho nas áreas da educação, mobilidade, habitação ou cultura. Tem uma gestão baseada na economia do betão e pouco nas pessoas, que vai entretendo com circo, pois pão é coisa que não dá. Vive das satisfações pontuais, que vão mascarando a falta de ideias e de trabalho.